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Início da Jornada Acadêmica...

    




    Como egressa do sistema público de ensino, minha jornada acadêmica teve início em uma instituição particular, a FAFI-BH, onde cursei Licenciatura em História. Durante a graduação, já me envolvi na prática pedagógica, lecionando enquanto ainda estava em formação. Esse período foi desafiador, com dias dedicados ao trabalho e noites ao estudo. A jornada exigiu esforço e resiliência, mas foi uma experiência que enriqueceu minha trajetória profissional e acadêmica.
    Inicialmente, a carreira docente não era minha primeira escolha. No entanto, a falta de experiência e de recursos financeiros me levou a considerar essa opção. O fator determinante para minha decisão foi a influência de um professor de História que tive no ensino médio, que mais tarde se tornou meu colega de trabalho. Esse professor me ensinou algo que Paulo Freire defendia: “Não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’ (Freire, 1967, p.104). É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” (Gadotti, 1996, p.72). Essa perspectiva me fez reavaliar minha compreensão do mundo ao meu redor e reconhecer qual era meu papel nele.
    O exercício da docência me fez perceber a importância de uma educação contínua e aprofundada para manter e aprimorar a qualidade do meu trabalho. A complexidade crescente do ambiente educacional, junto com as demandas de alunos mais diversos e a constante evolução do conhecimento, tornou evidente que uma pós-graduação seria fundamental para desenvolver as habilidades e o conhecimento necessários para uma prática pedagógica eficaz e inovadora. A busca por formação continuada permite ao professor se manter atualizado com as melhores práticas e metodologias, além de incentivar um processo constante de reflexão e aprimoramento profissional. Isso porque
A educação é permanente na razão, de um lado, da finitude do ser humano, de outro, da consciência que ele tem de finitude. Mas ainda, pelo fato de, ao longo da história, ter incorporado à sua natureza não apenas saber que vivia, mas saber que sabia e, assim, saber que podia saber mais. A educação e a formação permanente se fundam aí (Freire, 1993, p. 12).
    Em 1996, matriculei-me no curso de pós-graduação, estudando aos sábados, porque tinha que trabalhar durante a semana. Foi mais um ano de muita luta até conseguir me formar. Agora eu estava graduada e trabalhando demasiadamente na Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais. A formação não me possibilitou uma ascensão social porque, desde 1995, o salário do professor, como hoje, nunca foi vultoso. Era muito difícil me manter e comprar livros para  poder me atualizar.
    Com o ganho de experiência, fui contratada por uma rede de ensino privada, o que trouxe melhorias significativas para minha trajetória acadêmica. Com um salário mais elevado, pude investir em livros importantes para minha área de atuação, como "História na Sala de Aula - Conceitos, Práticas e Propostas" (Karnal, 2010), "Ensino de História: Fundamentos e Métodos" (Bittencourt, 2009) e "Formação do Brasil Contemporâneo" (Prado Júnior, 2008), entre outros. Esses recursos permitiram-me aprimorar meus conhecimentos e enriquecer minhas práticas pedagógicas.
     Nesse contexto, os dois primeiros livros mostravam uma preocupação clara em tratar a História de maneira contextualizada. Isso significa apresentar eventos, personagens e conceitos históricos dentro de um quadro mais amplo, considerando fatores sociais, culturais, políticos, econômicos e geográficos que tanto influenciaram quanto foram influenciados pelos acontecimentos históricos. Essa abordagem requer uma conexão entre os eventos do passado e o contexto em que ocorreram, bem como uma reflexão sobre as repercussões que esses eventos tiveram ao longo do tempo até o presente.
    Festas (2015, p.3) em seu artigo intitulado A aprendizagem contextualizada: análise dos seus fundamentos e práticas pedagógicas, também, apresenta elementos para refletirmos sobre contextualização: “Defende-se uma escola, um ensino e uma aprendizagem centrados em saberes contextualizados, alternativos aos conhecimentos acadêmicos que se apresentavam como os principais objetivos da escola tradicional”. Esses saberes contextualizados, segundo a autora, ocorre quando os alunos são os protagonistas na descoberta e construção do seu conhecimento, através da observação e participação em atividades que têm relevância e significado real para os alunos.
    Depois de 23 anos trabalhando como professora, sendo 18 anos na Escola Estadual General Carneiro, surgiu uma oportunidade de fazer mestrado, em 2022. O Governo de Minas Gerais criou um programa denominado Trilhas de Futuro - Educadores, projeto que visa ofertar aos servidores, gratuitamente, cursos de aperfeiçoamento e pós-graduação lato sensu (Especialização e MBA), na modalidade EaD, e vagas em cursos de pós-graduação stricto sensu (Mestrado e Doutorado), na modalidade presencial, por meio do Projeto de Formação Continuada e Desenvolvimento Profissional dos Servidores da Educação.
    Participei do processo de seleção e fui aprovada. Mais uma vez, o choro e a alegria dominaram meu espírito, mas, agora era diferente, eu não precisava pagar mensalidade. Logo nas primeira aulas aprendi sobre a não neutralidade. Freire (1989) reafirma a necessidade de que educadores e educandos se posicionem criticamente ao vivenciarem a educação, superando as posturas ingênuas ou “astutas”, negando de vez a pretensa neutralidade da educação (Freire, 1989, p. 7).
    As aulas do curso de mestrado trouxeram à luz conceitos e discussões que não eram parte das minhas interrogações. As elaborações de Paulo Freire me fizeram refletir muito sobre concepções de educação, ensino e aprendizagem e seus significados na escolarização das classes populares.  Nunca tinha trabalhado ou questionado o sistema a partir da visão desse educador da vida. O diálogo, a conscientização e a problematização passaram fazer parte das minhas aulas. Isso não significa que não existissem antes, mas era algo efêmero, pois, querendo ou não, manter essa forma de lecionar é algo que dá muito trabalho e faz com que nós professores saiamos da nossa zona de conforto. Esse processo fortaleceu a busca por ensino contextualizado. Disso decorreu, também, entre outras ações, a priorização de saberes contextualizados nas aulas de história.
    Assim, em busca de respostas aos meus questionamentos como professora de História, decidi aprofundar o estudo a respeito da contextualização e se ela estava contemplada na coleção de livros didáticos de História do Ensino Médio adotado na escola onde trabalho. Por conseguinte, optei por desenvolver um projeto de pesquisa acerca do tema “ A Contextualização do Ensino de História no Livro Didático  do Ensino Médio adotado em 2018 na Escola Estadual General Carneiro, na Cidade de Sabará,  Minas Gerais”
    Em síntese, minha experiência como professora de história me mostrou que a contextualização é crucial para uma compreensão profunda e significativa do passado e do presente. É essa abordagem, uma "lente contextual", que permite aos alunos apreciar a complexidade e a riqueza da história, ajudando-os a aplicar esse entendimento em suas vidas cotidianas e na tomada de decisões mais informadas para o futuro. Portanto, decidi direcionar minha pesquisa para a temática da contextualização do ensino na coleção de livros didáticos de história do ensino médio, explorando como essa abordagem é utilizada e de que maneira ela pode ser aprimorada para enriquecer o aprendizado dos alunos.

Comentários

  1. A professora ensina o passado com o presente

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  2. a professora explica utilizando muitos exemplos do nosso dia a dia

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  3. A professora ensina o passado pensando no presente

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  4. Uma grande mulher, uma excelente parceira de trabalho!

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  5. Adriana Silveira de Castro e Couto5 de junho de 2024 às 09:20

    Parabéns pelo trabalho, Micheline! Que você possa colher os frutos dos seus estudos e abrir novos caminhos na sua profissão!

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  6. Parabéns Micheline pelo esforço e determinação!

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