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Método Tradicional e a contextualização do ensino

 

https://ivancarlo.blogspot.com/2019/06/a-pedagogia-tradicional.html. Acesso em 05 jun. 2024.

    O Método Tradicional foi introduzido no Brasil pelos jesuítas, que adotaram um estilo de ensino o qual, posteriormente, seria consolidado no Ratio Studiorum (Franca, 1952), o manual da Companhia de Jesus que sistematizava a organização dos estudos. Esse método é caracterizado por uma abordagem centrada no professor – a transmissão do conhecimento ocorre principalmente por meio de aulas expositivas, leituras e exames. Nesse modelo, a autoridade do professor é um elemento central e a avaliação é baseada em testes e provas. No Brasil, essa metodologia tem uma longa história e ainda é amplamente adotada em escolas públicas e privadas, especialmente em contextos nos quais a padronização e a rigidez curricular são valorizadas.

    Afirma o pesquisador Alves (2005):

[…] a inserção material da Companhia de Jesus no Novo Mundo e o combate na frente ideológica contra-reformista expunham os jesuítas à nova ordem que se instaurava e às novas ideias, o que não deixou de influenciar o comportamento político da congregação. Fosse por puro oportunismo político, pela defesa de interesses materiais da ordem religiosa ou pelo vislumbre da importância de algumas ideias novas, os padres da Companhia de Jesus revelaram maior tolerância política em relação aos adversários, o que não representava o tom dominante da Contrarreforma, principalmente da Inquisição (Alves, 2005, p. 622).

    Os jesuítas trouxeram todo um estilo de ensinar, consolidado posteriormente no Ratio Studiorum, seu manual de organização dos estudos, especialmente a partir do século XVII.
  O Ratio Studiorum é um documento que estabelece diretrizes para a administração, o currículo e a metodologia do ensino (Franca, 1952). Foi concebido através da sistematização e da codificação de mais de 50 anos de experiências educacionais jesuíticas em várias regiões, a partir de 1534. Embora não seja um tratado formal de pedagogia, o Ratio Studiorum representa uma abordagem pedagógica que se tornou fundacional para a Pedagogia Tradicional no Brasil (Franca, 1952).
  É importante notar que esse documento não demonstrava preocupação com a contextualização do conhecimento. Seu objetivo inicial era a catequização dos povos indígenas e o afastamento de qualquer influência das ideias reformistas que haviam surgido na Europa. Assim, a abordagem educacional proposta pelo Ratio Studiorum buscava alinhar-se ao propósito de disseminar a fé católica e manter a ortodoxia, sem uma abertura para outras perspectivas ou uma preocupação em integrar a educação com as realidades culturais e sociais locais (Franca, 1952).
    Quando o professor é visto como o único detentor do saber, ele exerce controle sobre os alunos. No entanto, essa dinâmica pode ser prejudicial, pois impede os estudantes de se sentirem capazes de criar seu próprio conhecimento. Em vez de desenvolver habilidades críticas e criativas, os alunos tendem a simplesmente reproduzir aquilo que o professor considera importante, sem questionamento ou adaptação ao contexto mais amplo. Essa visão pode limitar o desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia do estudante, resultando em uma educação mais focada na repetição do que na verdadeira aprendizagem. Sobre isso, Freire (1987, p. 30) afirma:

Não poderia deixar de ser assim. Se a humanização dos oprimidos é subversão, sua liberdade também o é. Daí a necessidade de seu constante controle. E, quanto mais controlam os oprimidos, mais os transformam em “coisa”, em algo que é como se fosse inanimado. Esta tendência dos opressores de inanimar tudo e todos, que se encontra em sua ânsia de posse, se identifica, indiscutivelmente, com a tendência sadista.

  O controle no contexto educacional pode ser compreendido como a submissão do aluno ao professor, em um modelo no qual o primeiro se limita a seguir as diretrizes do segundo, sem espaço para questionamento ou autonomia. Nesse modelo, o docente assume uma posição de autoridade que dita as regras do ensino, focando principalmente aulas teóricas e transmissão de informações de maneira unidirecional. Consequentemente, o aluno é reduzido ao papel de um repetidor, encarregado de absorver e reproduzir as informações apresentadas. 
    A ausência de contextualização limita a capacidade dos alunos de relacionar o conteúdo aprendido com situações do mundo real ou com seus próprios interesses e experiências. Além disso, esse modelo tradicional de ensino frequentemente negligencia a necessidade de respeitar a autonomia dos alunos, tratando-os como receptores passivos de conhecimento, em vez de participantes ativos na construção de sua própria aprendizagem.


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